Mentes
infantis destroçadas
Poucos
crimes causaram tanta perplexidade no Brasil quanto o do menino Marcelo
Pesseghini, de 13 anos, residente na capital paulista, que recentemente matou o
pai, a mãe, a avó e a tia-avó, e em seguida se suicidou.
Tão inverossímil parecia o fato que diversas hipóteses foram
levantadas, apontando para vários possíveis autores da chacina. Não é crível,
dizia-se, que um simples menino, no início apenas da adolescência, seja capaz
de tais monstruosidades.As investigações, porém, tanto quanto se saiba, derrubaram completamente todas essas conjeturas. Os sinais de que o crime foi mesmo cometido pelo garoto se mostraram de uma evidência sem contraditório. E não apenas os indícios colhidos no local do crime, mas depoimentos de colegas de classe de Marcelo atestam que ele vinha falando em matar os pais; e, mesmo após tê-los matado, foi até a escola e contou a um colega o que tinha feito. Este não acreditou, tal era o absurdo da cena. Achou que era fruto de imaginação ou brincadeira de mau gosto. Mas, infelizmente, era realidade. Marcelo voltou para casa e suicidou-se.
Estabelecida assim a verdade dos fatos, permanece a pergunta:
por que ele fez isso? O Instituto de Criminalística (IC) de São Paulo
debruçou-se sobre o insólito acontecimento à busca de uma explicação e
apresentou seu laudo, no qual aponta os mecanismos mentais e psicológicos que
levaram o menino Marcelo a tornar-se um monstro.
Se essas causas psicológicas foram cavalgadas ou não por alguma
forma de possessão diabólica, não é função do IC se pronunciar sobre isso. A
possibilidade fica de pé para ser considerada por algum exorcista.
Mas, seja como for, interessa altamente conhecer as conclusões
do IC, inclusive para prevenir outros casos semelhantes que possam surgir.Diz o laudo que o garoto “teve um surto psicótico quando matou os pais, a avó e a tia-avó” (“O Estado de S. Paulo”, 7-9-13), como resultado de várias causas que se somam, mas a ênfase é colocada no que qualifica de “excesso de jogos violentos”.
“De acordo com a perita Vera Lúcia Lourenço, o estudante teve uma ‘alteração de pensamento’ e passou a acreditar que era um ‘matador de aluguel’, inspirado no jogo Assassin's Creed. ‘Todo o tempo que passava em jogos eletrônicos caracteriza uma fuga da realidade, limitando o contato social.’"
Assassin's
Creedé uma série de jogos eletrônicos de ficção, centrados numa
eterna batalha travada entre assassinos e templários ao longo da história da
humanidade.
“Seguindo a
história do jogo, conforme depoimentos de colegas, Marcelo montou um grupo na
escola chamado ‘Os Mercenários’ e convidou outros adolescentes a matar os pais.
Esses pensamentos violentos seriam persistentes, até que ele ‘confundiu
fantasia e realidade’”.
“Marcelo, no
momento do crime, passava por um ‘estreitamento de consciência’, que só
terminou quando voltou da escola. ‘Quando se deparou com o ato cometido (os
homicídios), entrou em estado de neurose e, não suportando a culpa, cometeu
suicídio’, afirmou Vera Lúcia”.
Evidentemente, o laudo do IC não conduz a uma certeza absoluta.
Mas é um forte indicativo de algo confirmado por inúmeras outras fontes, ou
seja, que os jogos eletrônicos produzem perturbações psíquicas nas crianças e
adolescentes, podendo chegar a consequências mentais e psicológicas dramáticas.
O caso do menino Pesseghini deve servir de alerta aos pais e educadores a
respeito de jogos eletrônicos, cujas desastrosas consequências têm sido
noticiadas em escala universal.
Vai longe o tempo em que meninas brincavam com boneca e meninos
com carrinho, formando uma estrutura mental sadia e ordenada para enfrentar a
vida.
O atual processo de destroçar as mentes infantis só pode
provocar as lágrimas da Santíssima Virgem.Luiz Gonzaga – Novembro de 2013
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